Coronavir: seria a cura?

Coronavir: seria a cura?

28 de março de 2021

A infecção pelo novo coronavírus pode ser considerada o maior problema de saúde pública da atualidade no mundo. Toda a atenção dos grupos de pesquisas, governos e indústria farmacêutica está voltada na busca de vacinas, medicamentos ou terapias eficazes no combate ao SARS-CoV-2. O primeiro medicamento do mundo para o tratamento da COVID-19 foi batizado de Coronavir, da empresa farmacêutica R-Pharm e surgiu com a premissa de impedir a replicação do SARS-CoV-2. Trata-se de um medicamento específico para o novo coronavírus, o favipiravir, voltado para pacientes não-hospitalizados, ou seja, com infecções leves a moderadas provocadas pelo vírus. 
De acordo com dados da R-Pharm, 55% dos pacientes tratados com o Coronavir apresentaram melhora no sétimo dia do tratamento, enquanto apenas 20% dos pacientes evoluíram positivamente no sétimo dia de tratamento padrão. Após 5 dias de tratamento, o SARS-CoV-2 foi eliminado em 77,5% dos pacientes que receberam a medicação. O estudo foi realizado em mais de 110 pacientes pelo Instituto Central de Epidemiologia da Rússia, e já encontra-se registrado para uso nesse país. O favipiravir, princípio ativo do Coronavir, também foi testado na China e no Japão. Inclusive, no Japão é bastante utilizado como base para tratamentos antivirais. 
O favipiravir é uma molécula bem tolerada, que após administração encontra-se 60% ligada às proteínas plasmáticas. Alguns ensaios clínicos indicaram que apesar de bem tolerado, o favipiravir pode provocar alterações em enzimas hepáticas, sintomas gastrointestinais e elevação dos níveis séricos de ácido úrico. O mecanismo de ação do favipiravir baseia-se na inibição seletiva da RNA polimerase, ou seja,  o fármaco incorpora-se no RNA viral e então, inibe o RNA dependente da RNA polimerase (RdRp). Esse fármaco é eficaz contra diversos tipos de vírus, como o H1N1, H5N1 e H7N9. O favipiravir também é capaz de inibir cepas de vírus resistentes aos antivirais.
Além de ser efetivo contra cepas do vírus Influenza, o favipiravir também possui atividade contra arenavirus, bunyavirus, flavivirus e filoviruses. Durante a epidemia de ebola em 2014-2015, no oeste africano, o favipiravir foi utilizado no tratamento de pacientes, apresentando bons resultados. Pelo sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2, foi possível identificar o vírus como uma fita simples de RNA com a RdRp similar aos demais tipos de coronavírus (SARS-CoV-1 e MERS-CoV-2), por isso o favipiravir é considerado uma ótima estratégia contra a COVID-19.
Na maioria dos ensaios clínicos conduzidos utilizando o favipiravir, os resultados dos pacientes foram superiores ao tratamento padrão, sugerindo uma boa efetividade do fármaco. A dose de favipiravir utilizada no Japão para o tratamento de infecções pelo vírus Influenza é de 3200 mg por dia (1600 mg a cada 12h) no dia 1, seguido de duas administrações diárias de 600 mg por até 5 dias. No ensaio clínico chinês que investigou a efetividade desse medicamento na COVID-19, as doses foram as mesmas, porém o tratamento de manutenção (600 mg, 2 vezes ao dia), permanece por até 14 dias. Alguns estudos mostram que pode existir uma variabilidade étnica em relação à farmacocinética do favipiravir, que não deve ser ignorada se o fármaco realmente for proposto para essa finalidade.
Então, o favipiravir, na forma de Coronavir, proposto pelos cientistas russos, pode ser uma boa estratégia para o tratamento de casos leves a moderados da COVID-19, visto que seu mecanismo de ação e segurança já foram garantidos por ensaios clínicos prévios. O que nos resta questionar é como o medicamento vai se comportar em pacientes com multi-morbidades. Esses dados ainda não foram informados, portanto, a real efetividade do Coronavir contra o SARS-CoV-2 precisa de ensaios clínicos de confirmação.
Referências consultadas: (1) MISHIMA, E. et al. Uric acid elevation by favipiravir, an antiviral drug. Tohoku J Exp Med., 2020 Jun; 251 (2): 87-90. doi: 10.1620/tjem.251.87. (2) FURUTA, Y. et al. Favipiravir (T-705), a novel viral RNA polymerase inhibitor. Antiviral Res., 2013 Nov;100(2):446-54. doi: 10.1016/j.antiviral.2013.09.015. (3) CONSTANZO, M., De GIGLIO, M.A.R., ROVIELLO, G.N. SARS-CoV-2: Recent reports on antiviral therapies based on lopinavir/ritonavir, darunavir/umifenovir, hydroxychloroquine, remdesivir, favipiravir and other drugs for the treatment of the new coronavirus. Current Medicinal Chemistry, 2020, v. 7. doi.org/10.2174/0929867327666200416131117. (4) DU, Y.X., CHEN, X.P. Favipiravir: pharmacokinetics and concerns about clinical trials for 2019 n-CoV infection. Clinical Pharmacology & Therapeutics, 2020. https://doi.org/10.1002/cpt.1844.

Doenças crônicas e a COVID-19

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Marissa G. Schamne
Marissa G. Schamne
PhD | Cientista

Pesquisadora e professora universitária, farmacêutica por formação. Despertou o interesse pela pesquisa durante a faculdade na Iniciação Científica, que obviamente foi na área da neuropsicofarmacologia. Concluída a graduação, segue o caminho da carreira acadêmica e pesquisa até a co-fundação do Rigor Científico – onde encontrou uma maneira de expressar todo seu amor pela Ciência, e vislumbra a possibilidade de levar essas informações ao maior número possível de pessoas. Era uma pessoa tímida que conforme foi se inserindo no meio acadêmico encontrou uma forma de libertar-se dessa timidez, e agora matraqueia sem parar. Apaixonada pela natureza, esportes ao ar livre e a sensação de liberdade que isso traz. Gosta de viajar pelo mundo, seja através dos livros que lê ou das viagens que faz. Almeja alçar vôos mais altos divulgando ciência por aí.

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